Dando continuidade a parceria com a Editora Novatec, estamos publicando abaixo o artigo do Andrei Winograd, autor do livro "Alfabetização Financeira", um dos últimos lançamentos da Editora.
A idéia colocada nele é muito interessante, servindo para nossa reflexão.
No nosso dia-a-dia não percebemos, mas sempre existe o custo de oportunidade inerente as nossas decisões financeiras.
Custo de carregamento
Andrei Winograd [1]
(alfabetizacao.financeira@sefer.net)
Quanto mais altos forem os juros, maior será, em tese, a probabilidade de que você queira deixar o carro novo para depois, porque, fazendo um investimento hoje, talvez receba amanhã uma quantia mais do que suficiente para adquirir o carro. Se, contudo, você realmente não puder viver sem ele e preferir comprá-lo a aplicar o dinheiro, você estará renunciando a um determinado rendimento. A opção pelo carro tem, assim, um custo mensurável, que é seu custo de oportunidade.
Surge a possibilidade de você fazer um curso de pós-graduação cujo custo total, entre as mensalidades e o material didático, é de R$10.000. Dado o dilema fazer ou não fazer o curso, esse seria seu custo de oportunidade? Ainda não, porque além do dinheiro a ser gasto, você dedicará ao curso um tempo que poderia ser utilizado em atividades remuneradas. Se, no tempo que dura a pós-graduação, você poderia obter uma renda de R$15.000, seu custo de oportunidade será de R$25.000.
Cada vez que você abre mão de uma aplicação, seja para comprar bens ou serviços, seja para fazer outra aplicação, está deixando de ganhar o rendimento da aplicação não feita. Bom, há um sem-número de aplicações que o mercado oferece e talvez você mesmo já tenha várias, qual delas será a referência para o custo de oportunidade? Em princípio, aquela que representa a melhor alternativa, desde que não seja menor do que os juros básicos da economia, em cujo caso, eles serão a referência.
Digamos que você tenha quotas de um fundo de investimento qualquer e seja proprietário de um negócio. Um vem proporcionando uma taxa de retorno anual de 15% e, o outro, de 16%. Se um banco oferecer um certificado de depósito bancário (CDB) que rende 12% anuais, você provavelmente o recusará, porque pode ganhar mais se investir o capital excedente em seu próprio negócio. Se a rentabilidade de sua empresa fosse de apenas 10% a.a., você continuaria recusando a proposta do banco, porque poderia aumentar a aplicação no fundo de investimento, que ainda renderia mais do que o CDB.
Suponhamos que, lamentavelmente, tanto o fundo quanto seu negócio venham apresentando taxas de retorno negativas. Isso não quer dizer que seu custo de oportunidade também seja negativo, pela excelente razão de que há no mercado outras opções de aplicação cuja rentabilidade é superior àquela proposta pelo banco [2].
Aí você me diz que um amigo, que está negativo em R$5.000 no cheque especial a juros de 8% a.m., ganhou R$1.000 apostando nos cavalos. Qual é o custo de oportunidade dele, os juros básicos da economia? Não, veja a coisa pela seguinte ótica: se ele usar o dinheiro para pagar parte da dívida, deixará de ter uma despesa mensal de R$80 (R$1.000 × 8%). Com a possível exceção do tráfico de drogas, dificilmente o cavalheiro encontrará uma aplicação melhor do que pagar a própria dívida, mesmo que parcialmente. O juro da dívida, portanto, é seu custo de oportunidade. E se a dívida tivesse um custo de 0,1% a.m.? Nesse caso, visto que os juros básicos são muito superiores a isso, o melhor seria aplicar o dinheiro até a data do vencimento da dívida.
Até aqui falamos de quem tinha dinheiro no bolso. Olhemos agora o problema por outro prisma: surge a possibilidade de fazer um negócio cuja rentabilidade prevista é de 4% a.m. Se você não tem nenhum dinheiro, seu custo de oportunidade é zero? Claro que não. Você procura três bancos, que lhe oferecem financiamentos a juros mensais de 3%, 5% e 7%. Você obviamente preferirá o empréstimo mais barato, isto é, o que tem menores juros. No caso, o negócio é viável, porque sua taxa de retorno supera o custo de oportunidade (4% > 3%). Se o retorno previsto fosse de 2% a.m., o negócio não seria viável, porque sua rentabilidade estaria abaixo do custo de oportunidade.
Assim, o custo de oportunidade é o custo da melhor alternativa. Se você tem dinheiro, o custo de oportunidade corresponde ao rendimento da melhor aplicação não feita (juros mais altos); se não tem, o custo de oportunidade equivale aos juros da melhor fonte de endividamento (taxa mais baixa).
Muito bem. Como a bolsa caiu muito, você resolver montar uma carteira de ações. Dois meses depois, ela se valorizou em 5%. Você ganhou ou perdeu? Do ponto de vista absoluto, é claro que ganhou. Mas imagine que o fundo de renda fixa do qual você sacou o dinheiro que usou para comprar as ações tenha tido valorização de 6% no mesmo período. Isso quer dizer que, se você não tivesse comprado as ações, teria mais dinheiro. Resultado, do ponto de vista relativo, você deixou de ganhar, isto é, perdeu.
[1] Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduado em Finanças pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e em Mercados Futuros e de Capitais pela Universidade Cândido Mendes. Atua como executivo e consultor, possuindo vasta experiência na avaliação econômico-financeira de empresas e projetos. Autor dos livros "Alfabetização Financeira", a ser lançado em pela Editora Novatec, e "(F)Utilidades – Mistérios do dia-a-dia explicados", publicado em 2006 pela Matrix Editora.
[2] Na verdade, ao se comparar alternativas de investimento, deve-se levar em conta outros fatores além da taxa de retorno esperada, notadamente os riscos de crédito e de liquidez. O primeiro se refere à probabilidade de que a pessoa ou entidade a quem você emprestou dinheiro não o pague de volta. O segundo vem da eventual dificuldade de se transformar o investimento feito em dinheiro. Deve-se atentar, também, para as eventuais diferenças na tributação de cada uma das opções de aplicações, o que pode fazer com que os respectivos custos de oportunidade líquidos se apresentem em uma hierarquia de preferência diversa daquela válida para os custos de oportunidade brutos. Para fins da presente discussão, porém, limitemo-nos à taxa de retorno.
Investmaníacos, 13 de Março de 2009
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